BIAL Award in Biomedicine 2023 distingue investigação pioneira sobre cancro do cérebro

BIAL Award in Biomedicine 2023 distingue investigação pioneira sobre cancro do cérebro

Uma equipa liderada pelos investigadores Varun Venkataramani (primeiro autor), Frank Winkler e Thomas Kuner (coautores seniores), da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, venceu a terceira edição do BIAL Award in Biomedicine com um trabalho focado na área da biologia celular do cancro, que pode ser considerado um marco no campo emergente da neurociência do cancro (ver vídeo do trabalho vencedor aqui).

O prémio foi entregue numa cerimónia que decorreu no dia 20 de fevereiro na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, e contou com a presença do Ministro da Saúde, Manuel Pizarro, do Reitor da Universidade Nova de Lisboa, João Sàágua, do Presidente da Fundação BIAL, Luís Portela, do Presidente do Júri, Ralph Adolphs, e dos premiados Varun Venkataramani, Frank Winkler e Thomas Kuner.

Impossibilitado de estar fisicamente presente na Cerimónia, o Presidente da República enviou uma mensagem (ver vídeo aqui), expressando o seu agradecimento pelo trabalho desenvolvido pela Fundação BIAL ao longo dos seus 30 anos. “A Fundação BIAL não apenas superou expectativas, mas também conquistou um prestígio e reconhecimento internacional que tanto orgulha o nosso país”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa.

O estudo “Glutamatergic synaptic input to glioma cells drives brain tumour progression”, publicado na revista Nature em setembro de 2019, representa uma investigação importante para a compreensão do cancro humano, concretamente do glioblastoma, um tipo de tumor cerebral muito agressivo, com um tempo médio de sobrevivência de apenas um ano e meio, mesmo com tratamento de última geração. Os autores demonstraram que os glioblastomas e outros tipos de gliomas incuráveis são capazes de se integrar na função do cérebro, tendo sido descoberto que informações de células cerebrais saudáveis, normalmente usadas em funções como o pensamento e a memória, impulsionam a progressão dos gliomas. Isto é possível através da formação de sinapses entre os neurónios e as células cancerígenas.

O BIAL Award in Biomedicine 2023, no valor de 300 mil euros, distingue o trabalho de Venkataramani, Winkler, Kuner e de mais 26 co-autores, investigadores da Heidelberg University, Heidelberg University Hospital, German Cancer Research Center, University Hospital Mannheim, Otto-von-Guericke University (Alemanha), Johns Hopkins University School of Medicine (EUA), University of Glasgow (Reino Unido), University of Bergen e Haukeland University Hospital (Noruega) à data da publicação do artigo.

As células cerebrais normalmente comunicam entre si através de contactos muito específicos – as sinapses – e libertam substâncias químicas que permitem que uma célula cerebral excite outra. Os autores começaram por encontrar características estruturais em tumores cerebrais que tinham toda a aparência de sinapses. Além disso, estas características sinápticas surgiam nos tumores cerebrais mais malignos. Em seguida, descobriram que essas sinapses eram funcionais e forneciam ao tumor em crescimento um contributo nutritivo do cérebro, o que estimulava o crescimento e a malignidade do tumor.

Estas descobertas ajudam a explicar algumas das características bizarras dos tumores cerebrais, como o facto de se poderem “entrelaçar” por todo o cérebro, enquanto outros tipos de tumor simplesmente formam um nódulo duro ou uma massa. Este facto também pode explicar – pelo menos em parte – por que razão os tumores cerebrais muitas vezes não são detetados e apresentam poucos sintomas.

As especificidades da transmissão sináptica encontradas também apontam caminhos para novas terapêuticas específicas que podem ser usadas no tratamento dos tumores cerebrais. A investigação premiada fornece ainda uma nova explicação para o motivo pelo qual a epilepsia e a progressão do tumor são frequentemente observadas juntas: a epilepsia pode ser uma causa, e não uma consequência, da progressão do tumor.

Para Ralph Adolphs, “o artigo vencedor desta edição representa um estudo chave para a neurociência do cancro, ilustrando um tema fundamental e absolutamente crítico para o cancro em geral. As células cancerígenas não podem simplesmente proliferar – têm de sequestrar processos biológicos saudáveis e integrar-se no funcionamento normal dos tecidos. Em nenhum lugar isto é mais flagrante – e surpreendente – do que nos tumores cerebrais estudados no presente artigo”.

O trabalho vencedor foi escolhido entre 70 artigos nomeados como os trabalhos de investigação mais importantes publicados nos últimos 10 anos na área da biomedicina. Os artigos nomeados representavam estudos desde investigação básica a ensaios clínicos, incluindo trabalhos nas áreas das neurociências, oncologia, reumatologia, doenças metabólicas e infeciosas.

A próxima edição do BIAL Award in Biomedicine, promovido pela Fundação BIAL, decorrerá em 2025.

Autores do trabalho premiado e suas instituições na altura da publicação do artigo:

Heidelberg University, Alemanha
Varun Venkataramani, Dimitar Ivanov Tanev, Christopher Strahle, Christoph Körber, Markus Kardorff, Heinz Horstmann, Sang Peter Paik, Johannes Knabbe, Frank Herrmannsdörfer, Amit Agarwal, Felix Sahm & Thomas Kuner

Heidelberg University Hospital, Alemanha
Varun Venkataramani, Dimitar Ivanov Tanev, Alexander Studier-Fischer, Laura Fankhauser, Tobias Kessler, Ruifan Xie, Mirko Messer, Sevin Turcan, Wolfgang Wick, Felix T. Kurz & Frank Winkler

German Cancer Research Center (DKFZ), Alemanha
Varun Venkataramani, Dimitar Ivanov Tanev, Alexander Studier-Fischer, Laura Fankhauser, Tobias Kessler, Miriam Ratliff, Ruifan Xie, Mirko Messer, Wolfgang Wick, Felix Sahm, Azer Aylin Acikgöz, Hai-Kun Liu & Frank Winkler

University Hospital Mannheim, Alemanha
Miriam Ratliff & Daniel Hänggi

Otto-von-Guericke University, Alemanha
Christian Mawrin

Johns Hopkins University School of Medicine, EUA
Amit Agarwal & Dwight E. Bergles

Institute of Cancer Sciences, University of Glasgow, Reino Unido
Anthony Chalmers

University of Bergen e Haukeland University Hospital, Noruega
Hrvoje Miletic


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