Investigação sobre doença de Alzheimer vence Prémio BIAL de Medicina Clínica 2024

Investigação sobre doença de Alzheimer vence Prémio BIAL de Medicina Clínica 2024

A cerimónia de entrega da 21ª edição do Prémio BIAL de Medicina Clínica decorreu no dia 12 de fevereiro na Aula Magna da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e foi presidida pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tendo contado com a presença da Secretária de Estado da Ciência, Ana Paiva, e da Secretária de Estado da Saúde, Ana Povo. Em destaque esteve a intervenção de Manuel Sobrinho Simões sobre os “40 anos de Prémio BIAL: o passado e o futuro da Medicina”.

O neurorradiologista e investigador Tiago Gil Oliveira foi o grande vencedor do Prémio BIAL de Medicina Clínica 2024, com a obra “Uncovering the mysteries of brain regional susceptibility to neurodegeneration in Alzheimer’s disease: from neuropathology to brain magnetic resonance imaging”, que identifica as regiões cerebrais diferencialmente afetadas pela doença de Alzheimer, contribuindo para um diagnóstico mais preciso e precoce daquela que é a patologia neurodegenerativa mais prevalente em Portugal e no mundo.

Luís Abegão Pinto, Joana Tavares Ferreira e Quirina Tavares Ferreira são os autores da obra “Screening & eye examination centre using AI resources”, distinguida com uma Menção Honrosa, que propõe a implementação de cuidados oftalmológicos de proximidade, com recurso a tecnologias inovadoras como a Inteligência Artificial, para reduzir em cerca de metade, o risco de cegueira por glaucoma, doença que atinge cerca de 200 mil portugueses.

Também no domínio da oftalmologia, José Paulo Andrade e Ângela Carneiro são autores da obra “Degenerescência Macular da Idade - A primeira causa de cegueira irreversível em Portugal”, distinguida com uma Menção Honrosa, que poderá ter um impacto significativo na vida e saúde dos portugueses ao ajudar a prevenir e a tratar a degenerescência macular da idade (DMI), principal causa de cegueira irreversível em Portugal.

Além do discurso de encerramento pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a cerimónia incluiu intervenções do diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, João Eurico da Fonseca, do presidente da Fundação BIAL, Luís Portela, e do presidente do Júri, José Melo Cristino. Em destaque esteve a intervenção de Manuel Sobrinho Simões, que presidiu ao Júri de quatro edições do Prémio BIAL de Medicina Clínica (2006, 2018, 2020 e 2022) e apresentou a sua visão sobre os “40 anos de Prémio BIAL: o passado e o futuro da Medicina”.

“Há 40 anos eu fiquei fixado no Prémio BIAL porque foi de facto uma demonstração de que era possível em Portugal fazer um prémio que tivesse características diferentes”, referiu o prestigiado patologista, recordando os anteriores presidentes do Júri e as obras extraordinárias que foram sendo distinguidas ao longo das quatro décadas de existência do Prémio. Paula Coutinho, Maria de Sousa, Mário Dinis Ribeiro, Alexandre Castro Caldas e Miguel Castelo-Branco foram alguns dos autores destacados por Manuel Sobrinho Simões no seu discurso.

Tiago Gil Oliveira vence Prémio BIAL de Medicina Clínica com investigação que aponta caminhos para um diagnóstico mais preciso e precoce da doença de Alzheimer

O trabalho vencedor do Prémio BIAL de Medicina Clínica 2024, premiado com 100 mil euros, apresenta o mapeamento das alterações no cérebro de pacientes com a doença de Alzheimer, realizado com recurso à ressonância magnética e a modelos de roedores, para compreender as alterações moleculares subjacentes às patologias regionais do cérebro.

A investigação revelou que certas regiões do cérebro são afetadas de maneira diferente pelas várias proteínas tóxicas responsáveis pela doença de Alzheimer (DA). São estas proteínas tóxicas, como é o caso da beta-amilóide, que comprometem o funcionamento cerebral normal e provocam sintomas como a perda de memória de curto prazo e a desorientação espacial. Ao compreender como cada tipo de proteína tóxica afeta cada região do cérebro e ao conseguir mapear a composição dessas regiões afetadas, esta investigação ajuda a abrir o caminho para um diagnóstico mais precoce e melhores tratamentos para aquela que é a patologia degenerativa mais prevalente em Portugal e no mundo.

“O objetivo principal deste estudo, focado na identificação das regiões cerebrais diferencialmente afetadas, é contribuir para um diagnóstico mais preciso e precoce da DA. Além disso, com a potencial introdução na prática clínica em Portugal das novas terapias com anticorpos dirigidos às acumulações de beta-amilóide, este trabalho salienta também que há uma grande diversidade de outras patologias a afetar os cérebros dos pacientes com DA, contribuindo para tratamentos mais dirigidos”, explica o vencedor Tiago Gil Oliveira, professor associado na Escola de Medicina da Universidade do Minho, neurorradiologista no Hospital de Braga e investigador principal no Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde (ICVS).

Para o presidente do Júri, “a investigação premiada combina de forma notável a ciência fundamental com a prática clínica, fornecendo informação valiosa para o diagnóstico e potencial tratamento da DA”. José Melo Cristino realça ainda que “trabalhos como este não só contribuem para o avanço do conhecimento, como também inspiram quem tem vontade de combinar a prática médica com a investigação científica”.

Já Luís Portela, presidente da Fundação BIAL, recorda o “compromisso contínuo deste Prémio com a excelência científica e o incentivo à investigação médica que contribui para avanços significativos na saúde humana”.

O júri do Prémio BIAL de Medicina Clínica 2024 decidiu ainda atribuir duas Menções Honrosas, no valor de 10 mil euros cada uma. José Melo Cristino revela que “foram distinguidos dois trabalhos, no âmbito da oftalmologia, que se focam em doenças que afetam milhares de pessoas em Portugal e podem causar cegueira irreversível”.

Menção Honrosa para modelo inovador de rastreio de doenças oftalmológicas com recurso a IA

Distinguido com uma Menção Honrosa, o trabalho Screening & Eye Examination Centre using AI resources (SEER), de Luís Abegão Pinto, Joana Tavares Ferreira e Quirina Tavares Ferreira (Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e ULS Santa Maria), propõe um modelo inovador de rastreio de doenças oculares, como o glaucoma e a retinopatia diabética, utilizando Inteligência Artificial (IA).

Através de uma simples fotografia, o sistema é capaz de identificar sinais precoces de doenças oculares, permitindo encaminhar os doentes para tratamento especializado de forma rápida e eficaz. O SEER, que será implementado num centro piloto no Hospital Pulido Valente, demonstrou uma taxa de eficácia de 90% na deteção de doenças oculares, com um elevado potencial de custo-benefício.

Questionado sobre o impacto que este trabalho poderá ter na vida e saúde dos portugueses, Luís Abegão Pinto realça que “a implementação de cuidados oftalmológicos de proximidade, com o uso de tecnologias inovadoras como a IA, permitirá reduzir o risco de cegueira por glaucoma em cerca de metade”. Esta doença, que atinge cerca de 200 mil portugueses e que se pensa ainda assim estar sub-diagnosticada em 50%, é a principal causa de cegueira irreversível no mundo.

A expansão deste modelo a outras regiões do país poderá revolucionar o acesso a cuidados oftalmológicos, especialmente em áreas com menor cobertura médica. Ao permitir diagnósticos precoces e tratamentos mais eficazes, o SEER pretende contribuir para melhorar a qualidade de vida de milhares de pessoas e reduzir a pressão sobre os serviços de saúde.

Trabalho sobre Degenerescência Macular da Idade recebe Menção Honrosa 

O júri atribuiu também uma Menção Honrosa ao estudo “Degenerescência Macular da Idade - A Primeira Causa de Cegueira Irreversível em Portugal”, de José Paulo Andrade e Ângela Carneiro (Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e ULS São João). A investigação procura minimizar o impacto da DMI na população portuguesa, afetando aproximadamente 400 mil pessoas com mais de 55 anos.

Se não for tratada, a DMI, que aparece geralmente depois dos 55 anos e piora com o tempo, pode levar a uma perda grave da visão, especialmente nas pessoas mais idosas. O objetivo deste trabalho é explicar como esta doença pode ser descoberta a tempo, como pode ser tratada e, mais importante, como evitar que ela se agrave.

Os autores revelam que manter uma alimentação saudável, como comer frutas, vegetais e peixe, bem como fazer exercício físico pode ajudar a proteger os olhos. Indicam também os hábitos a evitar, como fumar, que estão relacionados com o aparecimento da doença.

“Ao divulgar informações sobre os fatores de risco que se podem modificar, como o tabagismo e alimentação desadequada, e ao propor estratégias para uma deteção precoce da doença, este trabalho poderá reduzir o número de casos de perda visual irreversível, aliviar a sobrecarga nos serviços de saúde, minimizar os custos associados ao tratamento da doença, e melhorar a qualidade de vida dos doentes”, explica José Paulo Andrade.

O Prémio BIAL de Medicina Clínica visa galardoar uma obra intelectual, original, de índole médica, com tema livre e dirigida à prática clínica, que represente um trabalho com resultados de grande qualidade e relevância. Desde a sua instituição, o Prémio BIAL analisou 720 obras candidatas e mobilizou 1853 investigadores, médicos e cientistas de 21 países. Em 21 edições, distinguiu 111 trabalhos de 316 autores, tendo sido editadas e distribuídas gratuitamente aos profissionais de saúde 43 obras premiadas, num total de mais de 326 mil exemplares. A próxima edição do Prémio BIAL de Medicina Clínica terá lugar em 2026.

 

 

 


Investigação sobre doença de Alzheimer vence Prémio BIAL de Medicina Clínica 2024

Não há resultados de acordo com os critérios