CINCO JOVENS INVESTIGADORAS PREMIADAS NAS ÁREAS DAS NEUROCIÊNCIAS, CANCRO, DOENÇAS DEGENERATIVAS E INFLUÊNCIA DO AMBIENTE NA SAÚDE
A cerimónia de entrega da segunda edição do Prémio Maria de Sousa decorreu no dia 14 de novembro no Teatro Thalia, em Lisboa, e contou com a presença da Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato, a presidir à sessão, da Secretária de Estado da Promoção da Saúde, Margarida Tavares, em representação do Ministro da Saúde, e do Secretário de Estado do Ensino Superior, Pedro Teixeira.
As cinco vencedoras, todas jovens doutoradas em ciências da saúde, são Carina Soares-Cunha (ICVS, U.Minho), Sandra Tavares (i3S, U.Porto), Ana Melo (IST-ID, U.Lisboa), Ana Rita Cruz (Champalimaud Research/Systems Oncology) e Daniela Rodrigues (CIAS, U.Coimbra).
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Os projetos premiados na edição de 2022 foram selecionados entre 54 candidaturas e focam-se na investigação nas áreas das neurociências, cancro, doenças degenerativas e influência do ambiente na saúde.
Numa parceria exclusiva da Ordem dos Médicos e Fundação BIAL, este prémio presta homenagem à imunologista e grande investigadora portuguesa Maria de Sousa, que será sempre recordada como uma personalidade ímpar da ciência a nível mundial.
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Na sua intervenção, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, realçou que “dar continuidade ao legado da Professora Maria de Sousa é a forma mais nobre que temos de a homenagear”, acrescentando que “hoje comemoramos a ciência na investigação, na inovação e na medicina, comemoramos uma grande mestre que se distinguiu pela sua qualidade científica e técnica, aliando a investigação ao humanismo, o conhecimento ao ensino e formação, a alegria de viver ao espaço das artes”.
Já o presidente da Fundação BIAL recordou que Maria de Sousa “marcou profundamente a Fundação BIAL e deixou em cada um de nós um amigo” e reiterou o gosto de, “em parceria com a Ordem dos Médicos, voltarmos a distinguir e apoiar jovens cientistas a desenvolverem a sua carreira e a ganharem mundo, como Maria de Sousa sempre pugnava”. Luís Portela deixou também os seus votos às premiadas: "sejam felizes na realização deste vosso projeto e na concretização de uma carreira científica verdadeiramente útil às pessoas".
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Em representação do Júri, Maria do Carmo Fonseca lembrou que Maria de Sousa “foi uma pessoa extremamente preocupada em garantir que as novas gerações pudessem ter literacia científica e oportunidade para desenvolver uma carreira na Ciência”. A neurocientista evocou as últimas palavras da Professora, que “fez questão de deixar escrito que é agora nossa responsabilidade continuar essa preocupação, que ela tanto teve e alimentou, que é garantirmos que as próximas gerações tenham oportunidade de em Portugal poder desenvolver Ciência”.
No seu discurso de encerramento, a Ministra da Ciência destacou o facto de as premiadas serem cinco mulheres. “Ainda bem que foram cinco mulheres porque, é sempre bom lembrarmos estas coisas, os Prémios Nobel até 2022 foram cerca de 900, dos quais 60 atribuídos a mulheres. Dirigindo-se às premiadas, Elvira Fortunato declarou que “é de vós que esperamos todas as perguntas porque, como dizia a Maria de Sousa, investigar é perguntar com instrumentos, e é de vós que esperamos muitas respostas, mesmo que não sejam as que estão à espera quando iniciam a jornada”.
Para além do neurocientista Rui Costa, o júri é composto por investigadores que foram muito próximos de Maria de Sousa: Maria do Carmo Fonseca, presidente do Instituto de Medicina Molecular (iMM) da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Graça Porto, diretora do grupo de investigação sobre a biologia do ferro do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto, Miguel Castelo-Branco, diretor do Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional (CIBIT) da Universidade de Coimbra, e Joana Palha, professora catedrática da Escola de Medicina da Universidade do Minho.
O prémio, que teve a sua primeira edição em 2021, será anualmente atribuído a cinco jovens investigadores, no valor de até € 30.000 para cada um, incluindo obrigatoriamente um estágio num centro internacional de excelência.
Projetos premiados
Carina Soares-Cunha | ‘Identificação de grupos neuronais do núcleo accumbens envolvidos em aprendizagem associativa’
A sobrevivência e adaptação ao ambiente exigem que os indivíduos identifiquem estímulos que predizem recompensas ou perigos e aprendam a agir adequadamente. Esses comportamentos ocorrem por processos de aprendizagem associativa, que são guiados pela atividade de uma área do cérebro denominada de núcleo accumbens (NAc). A hipótese levantada neste projeto é que a aprendizagem associativa requer o envolvimento de neurónios do NAc geneticamente e funcionalmente distintos, que até ao momento não foram identificados. Será então seguida uma abordagem multidisciplinar que permitirá compreender em detalhe as assinaturas transcricionais e funcionais de grupos neuronais envolvidos na aprendizagem associativa.
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Sandra Tavares | ‘Identificação dos componentes de reciclagem proteica que controlam a formação de metástases cancerígenas’
Este projeto de investigação foi concebido para ajudar no combate ao Cancro da Mama Triplo-Negativo (TNBC, do inglês Triple-Negative Breast Cancer), pois este é um dos tipos de cancro da mama que exibe uma maior agressividade. Devido a uma ausência de opções para intervenção terapêutica dirigida, a vasta maioria de pacientes sucumbe à doença metastática. Sabendo-se que é urgente compreender os mecanismos que levam à agressividade deste tipo de cancro, o objetivo deste projeto é identificar proteínas que estimulam a reciclagem proteica e que potenciam invasão e metástases em TNBC.
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Ana Melo | ‘Monitorização das espécies secretadas não-convencionalmente da proteína tau: implicações na progressão das tauopatias’
A deposição e agregação patológica da proteína tau no cérebro é responsável por diversas doenças neurodegenerativas devastadoras (tauopatias), incluindo a doença de Alzheimer. Globalmente, as tauopatias representam a maioria dos casos de demência, sendo a doença de Alzheimer responsável por cerca de 60-80% dos casos. Este projeto multidisciplinar irá utilizar técnicas de microscopia avançadas para descrever detalhadamente estes passos iniciais de translocação membranar de pat-Tau, o que possibilitará o desenvolvimento de novos inibidores para o tratamento de tauopatias, permitindo atuar em fases iniciais da neurodegeneração.
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Ana Rita Cruz | ‘Vesículas extracelulares tumorais neutralizam IFNγ como forma de evadir a imunidade antitumoral e imunoterapia’
Os inibidores de checkpoint imunológico (ICI) são utilizados no tratamento de tumores, por restaurarem a imunidade antitumoral. No entanto, apenas 20% dos doentes com cancro respondem a estas terapias. Assim, é necessário perceber os mecanismos que estão por detrás da resistência dos doentes a estas terapias. Para isso vai ser estudada a contribuição do recetor de IFNγ (IFNGR) em Vesículas Extracelulares para a regulação da sinalização de Interferão Gama (IFNγ) e para o tratamento de melanomas in vitro. Este projeto vai melhorar a nossa compreensão dos mecanismos que estão por detrás da progressão tumoral, o que poderá ajudar no desenvolvimento de terapias complementares a ICI, aumentando o seu sucesso.
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Daniela Rodrigues | ‘UPSEE HEALTH – Experiência sensorial dos espaços urbanos e o impacto na saúde’
Caminhar é um modo de transporte sustentável que desempenha um papel vital na promoção da saúde pública. Sendo uma atividade que ocorre ao ar livre, o ambiente influencia a adoção e manutenção deste comportamento. O objetivo principal deste trabalho é expandir a compreensão de como os jovens são expostos, experimentam e interagem com os lugares urbanos, e de como é que essa experiência se associa ao seu estilo de vida e à sua saúde. O trabalho apresenta um novo método que combina um Dispositivo Sensorial Móvel (MSD; que mede sinais vitais, localização, movimento/aceleração); uma aplicação móvel inovadora (que regista a experiência em lugares, local de nascimento, alimentação, exercícios, hábitos de sono); medidas antropométricas (estatura, peso e circunferência abdominal) e uma análise das características do espaço (p.e., elementos naturais, mobiliário urbano).
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