PRIMEIRA EDIÇÃO DISTINGUE INVESTIGAÇÃO EM DOENÇAS CARDIOVASCULARES, CANCRO, DOENÇA DO SONO E FUNCIONAMENTO CELULAR
O Prémio Maria de Sousa foi entregue no dia 24 de novembro a cinco investigadores portugueses, numa cerimónia que decorreu no Teatro Thalia, em Lisboa, e contou com a presença do primeiro-ministro, António Costa, a presidir à sessão, e do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor.
Os vencedores, todos jovens doutorados em ciências da saúde, são Andreia Pereira (i3S - Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto), Pedro Marques (Hospital de Santa Maria, Lisboa), Mariana Osswald (i3S), Sara Silva Pereira (iMM - Instituto de Medicina Molecular - João Lobo Antunes, Universidade de Lisboa) e Daniela Freitas (i3S).
Os projetos premiados focam-se na investigação nas áreas das doenças cardiovasculares, cancro, doença do sono e funcionamento celular.
Promovido pela Ordem dos Médicos e pela Fundação BIAL, este prémio presta homenagem à imunologista e grande investigadora portuguesa Maria de Sousa, que morreu no ano passado vítima da Covid-19.
O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, recorda que Maria de Sousa nunca ficava satisfeita com o que sabia e procurava sempre mais. “Isto é uma característica dos grandes cientistas e estou certo de que estes cinco jovens hoje premiados sentem também essa necessidade insaciável de questionar e pôr em causa para avançarem no conhecimento científico”.
“Maria de Sousa vivia vibrantemente a Ciência e sempre procurou criar condições para que os jovens cientistas pudessem concretizar os seus sonhos e os seus percursos científicos. É esse o objetivo deste Prémio, e considero que hoje, ao premiar estes cinco investigadores, estamos a perpetuar a obra da Maria”, complementa o presidente da Fundação BIAL, Luís Portela.
Já Rui Costa, presidente do Júri e neurocientista, relembra que, como mentora, Maria de Sousa era tão generosa como exigente. “A Maria exigia a criação de algo novo na Ciência e essa foi uma das premissas que tomámos como base na seleção dos cinco projetos premiados, de entre 84 candidaturas recebidas”.
Para além de Rui Costa, o júri é composto por investigadores que foram muito próximos de Maria de Sousa: Maria do Carmo Fonseca, presidente do Instituto de Medicina Molecular (iMM) da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Graça Porto, diretora do grupo de investigação sobre a biologia do ferro do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto, Miguel Castelo-Branco, diretor do Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional (CIBIT) da Universidade de Coimbra, e Joana Palha, professora catedrática da Escola de Medicina da Universidade do Minho.
O prémio, que teve a sua primeira edição em 2021, será anualmente atribuído a cinco jovens investigadores, no valor de até € 25.000 para cada um, incluindo um estágio num centro internacional de excelência.
Projetos premiados
Andreia Pereira | ‘BioTribo – Exploração de biomateriais como nanogeradores triboelétricos para aplicações cardiovasculares’
Este projeto tem por objetivo encontrar novas formas de combater as doenças cardiovasculares. O trabalho de investigação vai procurar obter uma fonte de energia inesgotável para os sensores utilizados na monitorização de doenças cardiovasculares e possibilitar a sua utilização em dispositivos elétricos que são atualmente implantados no paciente, como é o caso dos “pacemakers”, dispositivos de assistência ventricular e cardiodesfibriladores implantáveis.
Pedro Marques | ‘O papel da CCL2 e IL-8 no microambiente dos tumores neuroendócrinos da hipófise: relação com a agressividade tumoral e sua utilidade diagnóstico-terapêutica’
Os adenomas hipofisários são tumores benignos da hipófise, uma glândula situada na base do crânio que controla a maior parte da atividade hormonal do nosso organismo. Estes tumores causam dano por invasão de estruturas existentes na proximidade da hipófise, tais como os nervos óticos responsáveis pela visão, e podem também originar vários problemas de saúde relacionados com o excesso de produção ou défice de hormonas hipofisárias. A investigação pretende identificar novos biomarcadores úteis para o diagnóstico da doença e delinear novos alvos terapêuticos, assim como novas formas de tratamento no domínio da imunoterapia para doentes com adenomas hipofisários mais agressivos e resistentes às terapêuticas convencionais, por exemplo fármacos anti-CCL2 ou anti-IL-8 que são já utilizados para tratar outros cancros.
Mariana Osswald | ‘Como regular forças dependentes de actomiosina para preservar a integridade de um epitélio’
Este projeto visa investigar como é que os epitélios, um tipo de tecido característico de todos os animais e essencial para a sua existência, balanceiam forças para manterem a sua forma, integridade e funcionalidade. Perturbações da estrutura tridimensional dos tecidos estão associadas a patologias como o cancro ou doenças inflamatórias. A investigação vai estudar a organização de uma das principais estruturas das células responsável por regular forças: a actomiosina. Os resultados deste projeto vão contribuir para a compreensão dos mecanismos fundamentais que permitem aos tecidos responder a forças e manter a sua integridade, o que é essencial para desenhar tratamentos para doenças específicas.
Sara Silva Pereira | ‘O impacto da sequestração de parasitas na severidade da tripanossomíase’
Os tripanossomas africanos - transmitidos pela picada das glossinas, conhecidas por moscas tsé-tsé - causam a doença do sono em humanos e a tripanossomíase animal ou nagana em vários mamíferos. No gado, esta doença tem uma taxa de mortalidade elevada (até 70%) e resulta em perdas económicas muito acentuadas (4.5 mil milhões de dólares por ano só em África). Este trabalho pretende descobrir quais são as proteínas existentes na superfície do parasita que permitem que este se agarre aos vasos sanguíneos, e qual é a relação entre a expressão dessas proteínas e a severidade da doença em gado. Os resultados deste projeto vão identificar genes que sejam biomarcadores de doença severa. No futuro, espera-se que estes biomarcadores possam ser utilizados num dispositivo de diagnóstico portátil para rastrear gado em larga-escala e informar a comunidade sobre a virulência das estirpes em circulação e o risco de doença grave.
Daniela Freitas | ‘Glicosilação de vesículas extracelulares de cancro gástrico: o seu impacto na comunicação intercelular em cancro e o seu potencial para a descoberta de novos biomarcadores’
Encontrar novos biomarcadores para o cancro do estômago, assim como novos potenciais alvos terapêuticos, é o objetivo deste projeto. O cancro do estômago é frequentemente detetado em fases avançadas da doença, dada a falta de bons biomarcadores, o que dificulta a eficácia das terapias atualmente disponíveis. Este trabalho vai estudar o papel dos glicanos (estruturas de hidratos de carbono complexas) alterados no cancro do estômago na comunicação e reprogramação celular local e à distância.