A ideia de que a crença no paranormal está associada a processos psicológicos desadaptativos tem sido amplamente desafiada por estudos recentes. Estes estudos sugerem que, na ausência de predisposições específicas, como níveis elevados de transliminaridade (uma sensibilidade aumentada a estímulos internos e externos) e características associadas à psicopatologia (como a esquizotipia e tendências maníaco-depressivas), a crença no paranormal não compromete o ajustamento psicológico nem o bem-estar. No entanto, continua a ser uma questão em aberto se os diferentes tipos de crença no paranormal, nomeadamente a Crença Paranormal Tradicional (CPT, ligada a noções culturais e sociais de controlo por forças sobrenaturais) e a Filosofia da Nova Era (FNE, associada a questões mais individuais e espirituais), podem levar a variações na forma influenciam a perceção de bem-estar e ajustamento psicológico. No âmbito do projeto 123/20 - A latent profile analysis and structural equation modelling of paranormal belief, psychopathological symptoms, and well-being, apoiado pela Fundação BIAL e liderado por Neil Dagnall, a equipa de investigação realizou um estudo que explorou se a CPT e a FNE estão associadas de maneira diferenciada ao stress percebido (variável frequentemente usada nos estudos da área como um indicador de bem-estar). Os resultados indicaram que a CPT foi significativamente associada a níveis mais elevados de angústia e a uma menor capacidade de enfrentamento (coping). Por outro lado, a FNE não demonstrou qualquer associação preditiva. Estes resultados sugerem que a CPT pode refletir uma perceção reduzida de controlo sobre fatores externos, o que aumenta a suscetibilidade ao stress, enquanto a FNE, devido ao seu foco em questões mais individuais, não parece contribuir para estas dinâmicas. Assim, compreender as diferenças funcionais entre estas crenças é essencial para abordar o impacto psicológico da crença no sobrenatural. Este estudo foi publicado na revista científica PLOS ONE, no artigo Re-evaluation of the relationship between paranormal belief and perceived stress using statistical modelling.
ABSTRACT
Recent research indicates that paranormal belief, in the absence of allied cognitive-perceptual and psychopathology-related factors, is not associated with negative wellbeing outcomes. However, investigators have historically reported relationships between specific facets of belief (e.g., superstition) and stress vulnerability. These typically derive from the Revised Paranormal Belief Scale (RPBS), which has questionable psychometric integrity. The main issue being that several RPBS items perform poorly. Noting this, the present paper re-examined the relationship between paranormal belief and stress using the Rasch purified version of the RPBS. This comprises two dimensions, called Traditional Paranormal Belief (TPB) and New Age Philosophy (NAP). These are operationalised in terms of function. Specifically, whether belief provides a sense of control at the social (TPB) or individual level (NAP). Accordingly, this study examined whether TPB and NAP were differentially predictive of levels of perceived stress. In this context, stress served as an indicator of well-being. A sample of 3084 participants (Mage = 50.31, SD = 15.20, range 18–91) completed the RPBS alongside the 10-item Perceived Stress Scale (PSS-10). Confirmatory factor analysis and structural equation modelling revealed that TPB was significantly predictive of higher Distress, and lower Coping. NAP was neither predictive of Distress nor Coping. These findings support the notion that TPB is attendant with external control, particularly the notion that unknown supernatural forces/powers influence existence.