Estudo avaliou pela primeira vez se as flutuações diárias de humor e variáveis relacionadas (como stress ou sono) estão associadas a flutuações em estados metacognitivos (como a confiança ou o vigor de resposta) e concluiu que na população adulta saudável as flutuações de humor não interferem com a confiança na tomada de decisões.
No famoso livro “O erro de Descartes” (2008), o neurocientista português António Damásio analisa as emoções e o seu papel fundamental no comportamento racional humano, confirmando uma interligação de longa data entre as emoções e a cognição. Nesse sentido, se é certo que as emoções e as mudanças de humor fazem parte da natureza do ser humano, ainda se registam poucos estudos sobre como essas flutuações de humor interagem com a metacognição e, em particular, com a confiança nas nossas decisões.
Foi a considerar este estado da arte que os investigadores María da Fonseca, Giovanni Maffei, Rubén Moreno-Bote e Alexandre Hyafil da Universidade de Pompeu Fabra (Espanha), Koa Health B.V. (Espanha), Centre de Recerca Matemàtica (Espanha) e Universidade de Buenos Aires (Argentina) iniciaram um estudo longitudinal baseado em duas experiências online para avaliar se as medidas implícitas de confiança podem estar relacionadas com estados de humor em adultos saudáveis.
No artigo “Mood and implicit confidence independently fluctuate at different time scales”, publicado em outubro de 2022 na revista científica Cognitive, Affective, & Behavioral Neuroscience, os investigadores explicam que recorreram a uma amostra de 50 participantes, a maior parte dos quais entre a comunidade estudantil da Universidade de Pompeu Fabra, para rastrear os estados de humor e as tomadas de decisão dos sujeitos por um período de 10 dias consecutivos em atividades da vida quotidiana.
Os resultados obtidos demonstraram que não há correlação significativa entre as flutuações diárias de marcadores de humor e de confiança, ou seja, o humor e variáveis associadas, como a qualidade do sono, o prazer de comer e o nível de stress, não estão consistentemente associados a marcadores de confiança implícitos. No entanto, constatou-se que os estados relacionados com o humor e a confiança flutuam em diferentes escalas de tempo, sendo que os estados relacionados com o humor exibem flutuações mais rápidas (mais de um dia ou meio dia) do que os estados relacionados com o nível de confiança (dois dias e meio).
Rubén Moreno Bote, apoiado pela Fundação BIAL, considera surpreendente verificar que “as flutuações espontâneas relativas ao humor e confiança não estão associadas, como se esperava na hipótese deste estudo, mas evoluem em diferentes escalas de tempo”. Para o investigador da Universidade de Pompeu Fabra, “os resultados obtidos nesta área são importantes na medida em que podem contribuir para uma melhor compreensão dos transtornos dos estados afetivos”.
Saiba mais sobre o projeto “The neuronal basis of biases” aqui.