Investigadores testaram se a combinação de psicadélicos, nomeadamente DMT e harmina como dois ingredientes ativos da ayahuasca, com a meditação aumenta a atenção plena, compaixão, insight e transcendência do tipo místico num grau superior ao da meditação com placebo. Os resultados revelaram que o uso destes psicadélicos combinado com a meditação aumentou num grau superior as experiências de insight, transcendência e significado.
A investigação sobre meditação e substâncias psicadélicas tem trazido evidências crescentes dos seus respetivos benefícios para a saúde mental e para o bem-estar. No caso dos psicadélicos tem sido identificado um potencial terapêutico auspicioso para o tratamento de uma ampla gama de condições de saúde mental, embora o uso destas substâncias deva obedecer a um uso rigoroso e em contextos apropriados.
Uma substância que se tem revelado particularmente promissora é a dimetiltriptamina (DMT), um componente psicoativo que se encontra em muitas plantas de todo o mundo (como as acácias e as mimosas) e é utilizado na medicina vegetal indígena amazónica ayahuasca. A ayahuasca atraiu recentemente um interesse científico crescente com evidências dos seus potenciais efeitos terapêuticos, incluindo a redução dos sintomas de ansiedade e depressão, e a melhoria das capacidades de atenção plena e empatia. Também a harmina, substância que resulta de um composto com extratos de uma planta do Médio Oriente e de videiras da América do Sul, tem revelado potencial no tratamento da depressão e de outras doenças como a diabetes.
Embora as evidências terapêuticas da meditação e dos psicadélicos tenham sido comprovadas quando usados de forma isolada, surgem agora indicadores de potenciais sinergias da sua utilização de forma combinada. Foi neste contexto que, com o apoio da Fundação BIAL, a equipa liderada por Milan Scheidegger (Universidade de Zurique, Suíça) realizou um estudo randomizado controlado por placebo com o objetivo de testar se a DMT-harmina combinada com a meditação aumentam a atenção plena, compaixão, insight e transcendência do tipo místico num grau superior ao da meditação com placebo.
A investigação envolveu 40 meditadores experientes (18 mulheres e 22 homens) que participaram num estudo durante um retiro de meditação de três dias, recebendo placebo ou DMT-harmina. Os níveis de atenção plena, compaixão, insight e transcendência dos participantes foram avaliados antes, durante e após o retiro de meditação, utilizando questionários psicométricos.
No artigo “Meditating on psychedelics. A randomized placebo-controlled study of DMT and harmine in a mindfulness retreat”, publicado em setembro na revista científica Journal of Psychopharmacology, os investigadores revelaram que a atenção plena e a compaixão não foram significativamente diferentes no grupo DMT-harmina em comparação com o grupo placebo. No entanto, o grupo DMT-harmina autoatribuiu níveis mais elevados de experiências do tipo místico, consciência não dual (consciência unificadora que transcende a separação entre o eu e o outro, ou entre a mente e o corpo) e insight emocional durante os efeitos agudos da substância, em comparação com a meditação com placebo.
“Este estudo fornece novas evidências que apoiam a noção de que a combinação do composto psicadélico DMT com harmina tem o potencial de melhorar a meditação através de uma maior sensação de perceção, transcendência e significado, oferecendo informações valiosas sobre a interseção de psicadélicos e práticas meditativas”, revela Milan Scheidegger.
Saiba mais sobre o projeto “333/20 - Mindfulness and psychedelics: A neurophenomenological approach to the characterization of acute and sustained response to DMT in experienced meditators” aqui.