Investigadores analisaram as principais bases de dados científicas internacionais e verificaram que a maioria dos estudos sobre alegadas memórias de vidas passadas foram realizados sobretudo em países da Ásia, entre 1990 e 2010, através de entrevistas e análise documental. As crianças foram o público-alvo mais frequente nestes estudos, que se focaram principalmente em supostas memórias de vidas passadas, mas também em comportamentos incomuns, marcas e defeitos de nascença.
As alegadas memórias de vidas passadas (em inglês PLM - past-life memories) têm vindo a ser estudadas há décadas por investigadores de vários países com diferentes formações académicas (antropólogos, psiquiatras, psicólogos e outros). Porém, apesar das evidências produzidas pelos estudos de PLM, existe controvérsia sobre as possíveis explicações dessas memórias que vão desde fantasias infantis, memórias herdadas e perceções extrassesensoriais à criptomnésia, paramnésia ou fraude.
Com o objetivo de promover uma visão geral dos estudos desenvolvidos até à data e ajudar a estabelecer abordagens metodológicas para estudos futuros, uma equipa de investigadores do Brasil e EUA selecionou um total de 1.784 estudos publicados sobre PML desde 1960 até 2020 nas bases de dados da Scopus, Web of Science, PubMed/Medline, PsycINFO, Scielo e OpenGrey.
O conjunto de 1.784 estudos foi sujeito a uma triagem, segundo critérios de elegibilidade previamente estabelecidos, e resultou numa amostra final de 78 artigos científicos. A análise da amostra revelou que a maioria das investigações sobre PLM foi realizada em países asiáticos (58), seguindo-se a América do Norte (10), e com menos expressão a Europa (2), África (1) e 7 estudos multiterritoriais. Hipoteticamente, julga-se que a predominância asiática pode estar associada à prevalência de crenças na reencarnação das tradições religiosas/espirituais, como hinduísmo, budismo e jainismo. No entanto, relatos de memórias de vidas passadas também foram registados em países ocidentais e em culturas que não acreditam na reencarnação.
Registou-se um aumento gradual nas publicações por década desde o primeiro estudo académico publicado em 1960 por Ian Stevenson (o autor com a maioria das publicações e citações neste tópico), tendo o maior número de publicações (45%) ocorrido no período entre 1990 a 2010.
As abordagens metodológicas predominantes foram as entrevistas (73%) e a análise documental (50%). Relativamente ao público-alvo, a maioria dos estudos (84%) focou-se em relatos de crianças, tendo sido registadas memórias de supostas vidas passadas (100%), frequentemente associadas a uma morte violenta na suposta vida anterior; comportamentos incomuns (74%), como fobias e xenoglossia (falar línguas que não foram previamente aprendidas); e marcas/defeitos de nascença (37%) por vezes correspondentes a feridas da suposta vida anterior. Informações relativas a uma suposta família anterior foram apontadas em 41% dos estudos, tendo 11% dos seus registos escritos sido realizados antes do contacto com a suposta família anterior.
Os dados obtidos foram apresentados no artigo “Academic studies on claimed past-life memories: A scoping review”, da autoria de Lucam Moraes, Gabrielle Barbosa, João Pedro Castro, Jim Tucker e Alexander Moreira-Almeida, que foi publicado em 2021 na revista Science Direct. O artigo é um dos primeiros resultados do projeto “National survey of Cases of Reincarnation Type in Brazil”, desenvolvido por investigadores do NUPES - Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora (Brasil) e da Divisão de Estudos Percetuais, da Escola de Medicina, da Universidade de Virgínia (EUA), com o apoio da Fundação BIAL.
Saiba mais sobre o estudo “National survey of Cases of Reincarnation Type in Brazil” aqui.