Estudo demonstrou que existem diferenças neuronais e psicológicas entre homens e mulheres durante a gravidez e que os futuros pais mostraram maior reatividade a rostos infantis de angústia do que as futuras mães.
Apesar de a gravidez poder ser conceptualizada como um período de reorganização psicofisiológica para os futuros pais e mães, os estudos realizados sobre a responsividade neuronal e psicológica dos progenitores têm incidido particularmente sobre a parentalidade pós-parto, com maior foco nas mães, e em menor número nos pais e na parentalidade na gravidez em geral.
Com o apoio da Fundação BIAL, Helena Rutherford, Professora Associada no Yale Child Study Center, EUA, focou a sua investigação nos processos neuronais e psicológicos de pais e mães durante a gravidez, sabendo-se que podem ser antecedentes importantes para o cuidado pós-parto.
No artigo “Imagining the baby: Neural reactivity to infant distress and mind-mindedness in expectant parents”, publicado em abril de 2021 na revista Biological Psychology, Helena Rutherford, Madison Bunderson, Cody Bartz, Hanako Haitsuka, Elizabeth Meins, Ashley Groh e Karen Milligan divulgam os resultados da análise à reatividade neuronal durante o terceiro trimestre de gravidez de 38 gestantes e 30 futuros pais. Aos participantes foram mostradas imagens de angústia infantil e de rostos neutros enquanto a atividade electroencefalográfica foi registada.
“Descobrimos que os futuros pais tinham uma resposta cerebral mais forte aos rostos que mostravam sofrimento infantil do que aos rostos neutros em comparação com as mães grávidas”, revela Rutherford. Além disso, a reatividade às imagens de angústia infantil foi associada à mentalidade pré-natal em relação ao filho em futuros pais, ou seja, estes foram capazes de imaginar como seria o feto aos 6 meses de idade, e essa capacidade foi associada à reatividade neuronal ao sofrimento infantil.
Sabendo-se que a capacidade dos pais de pensar numa criança como uma pessoa individual pode moldar o próprio desenvolvimento da criança, “ser capaz de identificar indicadores precoces de parentalidade antes mesmo do nascimento, pode levar a novas oportunidades de apoio às famílias durante esse período crítico”, salienta a investigadora.
Helena Rutherford e os colegas das Universidades de York (Reino Unido), Missouri (EUA) e de Ryerson (Canadá) ficaram surpreendidos com os resultados obtidos. “Não esperávamos encontrar diferenças na forma como futuros mães e pais responderam ao sofrimento infantil – ou que os resultados centrais que relacionam as respostas neuronais aos rostos infantis e a capacidade de imaginar os futuros filhos fossem específicos para os pais”.
Uma explicação possível, revela a investigadora citando um estudo de Lothian (2008), é que talvez as mães grávidas sejam menos dependentes da reatividade às pistas faciais infantis para moldar a sua transição para a maternidade e reconhecer seu filho como um futuro agente psicológico porque já experimentam uma série de pistas internas e externas, a nível consciente e inconsciente, sinalizando a progressão do desenvolvimento da criança durante a gravidez (por exemplo, alterações hormonais, movimento fetal).
Saiba mais sobre o projeto “A psychophysiological perspective of the transformative experience of pregnancy” aqui.