Já ouviu falar em policronicidade? Trata-se da preferência que podemos ter para nos envolvermos em multitarefas. Um estudo abrangeu 167 participantes do Reino Unido para avaliar se o género influenciava esta preferência e concluiu que as mulheres acreditam ter consistentemente maior propensão para o multitasking do que os homens.
Quando começaram a investigar sobre a policronicidade, André J. Szameitat e Moska Hayati, da Brunel University London de Uxbridge em Inglaterra, ficaram surpreendidos ao verificarem que quase não havia estudos que avaliassem as diferenças de género em relação a esta apetência. Em contrapartida, vários estudos identificavam outras variáveis que podem afetar a preferência para o multitasking, como a cultura (Adams e van Eerde, 2010; König e Waller, 2010), traços de personalidade (Bhattacharyya et al., 2015), ou o interface trabalho-família (Korabik et al., 2016). “Existe uma forte e difundida crença no público em geral de que as mulheres têm maior propensão do que os homens para desenvolverem multitarefas, mas curiosamente não havia ainda estudos que o comprovassem”, explica Szameitat.
No artigo “Gender Differences in Polychronicity”, publicado na revista Frontiers in Psychology, Szameitat & Hayati (2019) explicam que aplicaram um questionário online a uma amostra de 167 participantes (89 mulheres e 78 homens), com idades entre os 18 e os 58 anos, maioritariamente estudantes universitários do Reino Unido, para aferir se se observavam diferenças de género na policronicidade. As questões colocadas procuraram avaliar a preferência pelas multitarefas de várias formas, incluindo o Multitasking Preference Inventory (MPI). “Quanto é que gosta de multitarefas?”, “Quão boa considera a sua performance em multitarefas?”, “Quantas horas por dia acha que gasta em multitarefas?”, ou “Quão importante considera que são as multitarefas na sua vida quotidiana?” foram algumas das perguntas a que os participantes deram resposta.
Os resultados deste estudo, apoiado pela Fundação BIAL, permitiram concluir que a policronicidade reportada pelos participantes da amostra indica uma diferença significativa no género, sendo que as mulheres mostraram ser consistentemente mais policrónicas do que os homens, o que significa que as mulheres gostam mais de multitarefas do que os homens. Além desse resultado, as inquiridas também avaliaram mais positivamente as suas próprias habilidades multitarefa e relataram gastar mais tempo em multitarefas do que os inquiridos. Finalmente, foi também o grupo das mulheres que atribuiu uma maior importância à multitarefa na vida quotidiana.
Mas será que se pode afirmar que as mulheres são verdadeiramente policrónicas? Por outras palavras, será que as mulheres realmente preferem e/ou gostam de desenvolver multitarefas, ou apenas as desaprovam menos do que os homens? É uma questão que pode fazer sentido aprofundar em futuros estudos, uma vez que as respostas dos homens, em média, indicaram a preferência de realizar uma única tarefa em vez de multitarefa, enquanto as respostas das mulheres parecem ser mais ambíguas, por vezes mostrando preferências explícitas para a multitarefa e outras para a monotarefa.
Saiba mais sobre o projeto “Gender differences in physiological correlates of multitasking” aqui.