O impacto da comunicação pós-morte no luto

O impacto da comunicação pós-morte no luto

Estudo com 70 indivíduos que vivenciaram comunicação pós-morte com parceiros ou cônjuges falecidos revela que a maioria a considerou reconfortante (81%) e útil (84%) no seu luto e quase metade (47%) referiu que facilitou a aceitação da perda.

A comunicação pós-morte (em inglês, after-death communication ou ADC) é definida como um fenómeno espontâneo em que um indivíduo vivo tem um sentimento ou uma sensação de contacto direto (não mediado, por exemplo, por um médium) com uma pessoa falecida. Em todas as sociedades, é provável que 30 a 34% dos indivíduos experienciem pelo menos uma ADC durante a sua vida.

As ADCs têm sido relatadas em diferentes culturas, raças, idade, estatuto socioeconómico, nível de escolaridade, género e crenças religiosas. Podem manifestar-se de diversas formas, tais como sentir a presença da pessoa falecida através do olfato, visão, audição ou até do toque; experiências simbólicas (tocar uma música no rádio, flores a desabrochar fora da estação, etc.); experiências eletrónicas (receber um telefonema, um “gosto” no Facebook ou um e-mail do falecido, anomalias informáticas, etc.); visitas ou mensagens em sonhos.

Apesar do número relevante de relatos deste fenómeno, são ainda limitados os estudos que examinam o impacto das ADCs naqueles que perderam parceiros. Foi neste contexto que uma equipa de investigadores, incluindo Callum Cooper, apoiado pela Fundação BIAL, desenvolveu um estudo que consistiu na aplicação de um questionário online a 70 indivíduos que relataram ADC com parceiros falecidos.

No artigo “Description and impact of encounters with deceased partners or spouses”, publicado em outubro na revista científica OMEGA - Journal of Death and Dying, os investigadores revelaram que as ADCs não parecem ter agravado a dor da perda, uma vez que a maioria dos inquiridos as considerou reconfortantes (81%) e úteis (84%). Para quase metade dos participantes (47%), as ADCs pareceram inclusive facilitar a aceitação da perda, 40% relataram uma recuperação acelerada e 42,9% confirmaram a influência significativa das ADCs no seu luto, com 61% a expressarem o desejo de continuar o contacto.

Já a influência sobre a tristeza relacionada com o luto foi variável: com 41% dos inquiridos a não registarem qualquer alteração, enquanto 40% referiram uma diminuição da tristeza. Os dados obtidos destacam o papel substancial e potencialmente terapêutico das ADCs no luto e na cura, apesar dos efeitos variáveis na tristeza e na recuperação.

De acordo com o investigador do Centro de Investigação em Psicologia e Ciências Sociais, da Universidade de Northampton (Reino Unido), “este estudo sublinha a possível influência positiva das ADCs nos parceiros em luto”, defendendo uma compreensão mais profunda deste fenómeno no processo de luto.

Saiba mais sobre o projeto “Investigation of the Phenomenology and Impact of Spontaneous and Direct After-Death Communications (ADCs)” aqui.

 


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