O que mais interfere na nossa memória de curto prazo?

O que mais interfere na nossa memória de curto prazo?

Investigadores realizaram experiências para explorar os efeitos da mudança na sequência da estimulação vibro-tátil na memória de curto prazo. Os resultados indicaram que, na memorização de uma sequência visual, a memória de curto prazo é mais afetada por estímulos vibro-táteis distratores dinâmicos do que estáticos.

Há uma dualidade no debate central na psicologia cognitiva contemporânea no que diz respeito aos mecanismos subjacentes à interferência na memória de curto prazo. De acordo com um dos pontos de vista, defendido por alguns autores, o principal determinante da interferência na memória é a similaridade/sobreposição de estímulos, ou seja, a interferência ocorre quando as representações da memória se sobrepõem a representações da memória semelhantes (interferência por conteúdo).

Outro quadro teórico alternativo argumenta que a interferência surge do conflito entre processos semelhantes que são envolvidos simultaneamente, como é o caso da seriação (interferência por processo). Esta foi a perspetiva explorada por John E. Marsh (Universidade Central de Lancashire, Reino Unido) e equipa, com o apoio da Fundação BIAL.

Os investigadores examinaram então a possibilidade de estender um fenómeno de distração auditiva (já bem estabelecido) ao domínio tátil, para discriminar os resultados de interferência por conteúdo e de interferência por processo.

O artigo Irrelevant changing-state vibrotactile stimuli disrupt verbal serial recall: implications for theories of interference in short-term memory, publicado em abril na revista científica Journal of Cognitive Psychology, descreve três experiências realizadas para explorar os efeitos da mudança na sequência da estimulação vibro-tátil na memória de curto prazo.

Na Experiência 1 descobriu-se que o impacto da recordação serial visuo-verbal de estímulos vibro-táteis dinâmicos é semelhante em magnitude ao de estímulos auditivos dinâmicos. A Experiência 2 demonstrou que a interferência da estimulação vibro-tátil na memória de curto prazo parece aplicar-se apenas à recordação da ordem dos itens e não ao seu conteúdo. Na Experiência 3 ficou estabelecido que a previsibilidade do estímulo vibro-tátil não parece modular a magnitude do efeito.

Os resultados revelaram que a memória de curto prazo para uma sequência visual é mais afetada por uma sequência vibro-tátil de estado variável, ou seja, distratores dinâmicos, que alternam de uma mão para outra, em comparação com uma sequência vibro-tátil de estado estacionário, isto é, distratores estáticos, apresentados nas duas mãos em simultâneo.

Estas foram as primeiras experiências a explorar em profundidade os efeitos de estímulos vibro-táteis irrelevantes para a tarefa na memória visuo-verbal de curto prazo e a semelhança funcional entre distração vibro-tátil e distração auditiva neste contexto.

De acordo com John E. Marsh, “os resultados obtidos pela equipa de investigadores do Reino Unido, Suécia, Alemanha e Canadá suportam a visão de que a interferência na memória de curto prazo é produzida por conflito entre processos de ordenação serial amodais e incompatíveis (interferência por processo), em vez de interferência entre códigos representacionais semelhantes (interferência por conteúdo)”.

Saiba mais sobre o projeto “The Control of Attentional Diversion: A Psychophysiological Approach” aqui.


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