Estudo com 3084 participantes avaliou se dois tipos de crença no paranormal podem estar associados a diferentes níveis de stress percebido. Os resultados demonstraram que a Crença Paranormal Tradicional foi significativamente associada a níveis mais elevados de angústia com suscetibilidade aumentada ao stress, enquanto a Filosofia da Nova Era não parece contribuir para estas dinâmicas.
A investigação sobre crenças paranormais é relevante porque essas crenças, comuns na sociedade, podem influenciar comportamentos e atitudes, como a maior desconfiança na ciência e a adesão a ideias pseudocientíficas. Embora historicamente associadas a processos psicológicos desadaptativos, estudos recentes indicam que as crenças paranormais não comprometem o bem-estar psicológico, exceto na presença de fatores como elevada transliminaridade (sensibilidade aumentada a estímulos internos e externos) ou traços psicopatológicos, como esquizotipia e tendências maníaco-depressivas.
Apesar disso, em momentos de stress, as crenças no paranormal podem atuar como formas de enfrentamento (em inglês coping) ilusório, oferecendo uma sensação de controlo, mas frequentemente promovendo estratégias evitativas que prejudicam o funcionamento psicológico. A literatura sobre a temática é assim inconsistente, levantando questões sobre como diferentes tipos de crenças no paranormal impactam o bem-estar, considerando as suas bases culturais, sociais ou individuais.
A Crença Paranormal Tradicional (CPT) está ligada a noções culturais e sociais que atribuem o controlo a forças sobrenaturais externas, como espíritos ou o destino, frequentemente oferecendo conforto em situações de incerteza coletiva. Já a Filosofia da Nova Era (FNE) enfatiza abordagens individuais e espirituais, como a meditação e a energia positiva, sugerindo que o controlo está no próprio indivíduo. Estas diferenças podem ter um impacto divergente no bem-estar, consoante o contexto, mas ainda não foram devidamente estudadas.
Para responder a essa questão, com o apoio da Fundação BIAL, uma equipa de investigação liderada por Neil Dagnall (Manchester Metropolitan University, Reino Unido) e Andrew Denovan (Liverpool John Moores University, Reino Unido) realizou um estudo baseado em modelos estatísticos, envolvendo uma amostra de 3084 participantes, maiores de 18 anos e residentes no Reino Unido, para aferir se a CPT e a FNE estão associadas de maneira diferenciada ao stress percebido, uma variável frequentemente usada nos estudos da área como um indicador de bem-estar.
Os resultados obtidos foram revelados no artigo Re-evaluation of the relationship between paranormal belief and perceived stress using statistical modelling, publicado em novembro na revista científica PLOS ONE, e indicaram que a CPT foi significativamente associada a níveis mais elevados de angústia e a uma menor capacidade de enfrentamento. Já a FNE não demonstrou qualquer associação preditiva.
De acordo com Neil Dagnall, “estes resultados sugerem que a CPT pode refletir uma perceção reduzida de controlo sobre fatores externos, o que pode aumentar a suscetibilidade ao stress, enquanto a FNE, devido ao seu foco em questões mais individuais, não parece contribuir para estas dinâmicas”. Assim, “compreender as diferenças funcionais entre estas crenças é essencial para abordar o impacto psicológico da crença no paranormal”, realça Neil Dagnall. Além disso, os investigadores sublinham que “a CPT não está causalmente relacionada com a angústia. Pelo contrário, a relação é mais complexa e, em alguns contextos, a redução do controlo pode associar-se positivamente à CPT, fazendo com que a CPT desempenhe uma função adaptativa, como facilitar o enfrentamento".
Saiba mais sobre o projeto “123/20 - A latent profile analysis and structural equation modelling of paranormal belief, psychopathological symptoms, and well-being” aqui.