Poderá o comportamento não-verbal do prestador de cuidados de saúde modular os relatos de dor e os efeitos placebo?

Poderá o comportamento não-verbal do prestador de cuidados de saúde modular os relatos de dor e os efeitos placebo?

Investigação avaliou os efeitos de comportamentos não-verbais de prestadores de cuidados de saúde nos relatos de dor e efeitos placebo em 51 homens e 53 mulheres divididos aleatoriamente por quatro grupos. Os resultados revelaram que não houve diferenças entre os grupos na redução da dor e que os mecanismos subjacentes aos efeitos placebo podem ser diferentes entre homens e mulheres saudáveis.

O contexto em que um tratamento médico ou psicológico é administrado pode aumentar ou diminuir o efeito desse tratamento e os prestadores de cuidados de saúde são um componente importante desse contexto. Assim, as características dos prestadores, como o seu género, e os seus comportamentos não-verbais podem ter impactos profundos nos resultados do tratamento.

Trabalhos de investigação demonstraram que os comportamentos não-verbais positivos dos prestadores de cuidados de saúde (por exemplo, sorriso, maior contacto visual, tom de voz positivo) conduziram a menores relatos de dor e, inversamente, os comportamentos não-verbais negativos (por exemplo, falta de sorriso, contacto visual mínimo, tom de voz monocórdico) conduziram a maiores relatos de dor. Na mesma linha, outro estudo revelou que o elevado apoio não-verbal de prestadores de cuidados de saúde gravados em vídeo aumentou a tolerância à dor dos participantes.

Para avaliar de forma sistemática os efeitos placebo dos comportamentos não-verbais positivos dos prestadores de cuidados de saúde em relatos de dor, Hojjat Daniali e colaboradores realizaram um estudo, apoiado pela Fundação BIAL, em que 51 participantes do sexo masculino e 53 do sexo feminino (num total de 104) foram distribuídos aleatoriamente por quatro grupos, aos quais foram apresentadas expressões faciais positivas, tom de voz positivo, movimento corporal positivo ou comportamentos não-verbais neutros de experimentadores (atores no papel de prestadores de cuidados de saúde) gravados em vídeo.

No artigo “The Effect of Singular Nonverbal Behaviours of Experimenters on Pain Reports”, publicado na revista científica Journal of Pain Research em abril de 2024, os autores explicam que, para cada grupo, foram obtidos relatos subjetivos de dor, stress, estado de ativação (arousal), como por exemplo cansado ou energético, e atividade cardíaca, num pré-teste, numa fase de condicionamento e num pós-teste. Foram induzidos quatro minutos de dor térmica em cada teste, e um creme placebo foi administrado antes do condicionamento e no pós-teste em todos os grupos.

Não se encontraram diferenças na redução da dor do pré-teste para o pós-teste entre os grupos de comportamentos não-verbais positivos e o grupo de comportamentos não-verbais neutros, o que parece indicar que os comportamentos não-verbais positivos dos experimentadores não diferem no seu efeito de redução da dor.

“Verificámos que nenhum comportamento não-verbal dos prestadores de cuidados foi mais eficaz do que outro na redução da dor e que os comportamentos não-verbais dos prestadores de cuidados são mais eficazes quando apresentados em conjunto, e não separadamente”, realça Hojjat Daniali. Estes resultados opõem-se a outros resultados anteriores que apresentaram as expressões faciais positivas dos prestadores de cuidados de saúde como o comportamento não-verbal com mais efeitos na redução da dor.

Os homens tiveram maior redução no desconforto da dor do que as mulheres entre o pré-teste e o pós-teste, em linha com estudos anteriores que sugerem que os primeiros apresentam maiores efeitos placebo do que as segundas. Por outro lado, as mulheres tendem a percecionar maior redução da dor durante os condicionamentos com sugestões verbais.

Este estudo permitiu também “confirmar que os mecanismos subjacentes aos efeitos placebo podem ser diferentes entre homens e mulheres”, revela o investigador da NTNU - Norwegian University of Science and Technology (Noruega).

Saiba mais sobre o projeto “036/20 - The role of non-verbal behaviour on placebo and nocebo effects. Psychophysiological experiments” aqui.


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