Roedores reconhecem melodias musicais como os humanos?

Roedores reconhecem melodias musicais como os humanos?

Serão os humanos os únicos a reconhecer melodias musicais, independentemente de serem tocadas em diferentes instrumentos, frequências e andamentos? Estudo revela que ratos demonstraram ter sensibilidade para rastrear padrões harmónicos e temporais na música e que essas sensibilidades podem ser partilhadas entre as espécies.

Já reparou que nas festas de aniversário, a música “Happy Birthday” é cantada por pessoas diferentes (com vozes individuais variadas) em diferentes faixas de frequência e numa velocidade escolhida aleatoriamente (ritmo mais lento ou rápido)? E que, apesar disso, todos os participantes na festa conseguem reconhecer a música, mesmo aqueles que só conhecem a letra noutro idioma? Isto acontece porque identificamos um excerto musical como um objeto que pode variar flexivelmente em pelo menos três dimensões (tom, tempo e timbre) sem perder a sua identidade.

Mas até que ponto a predisposição biológica dos humanos para processar música emerge de sensibilidades já presentes em animais não humanos? Com o apoio da Fundação BIAL, os investigadores Paola Crespo-Bojorque, Alexandre Celma-Miralles  e Juan Toro juntaram competências para explorar se uma espécie não vocal distante, o rato Long-Evans (rattus norvegicus), seria capaz de detetar mudanças de superfície numa melodia familiar.

No artigo “Detecting surface changes in a familiar tune: exploring pitch, tempo and timbre”, publicado na revista Animal Cognition em fevereiro de 2022, os investigadores da Universitat Pompeu Fabra (Espanha), Institució Catalana de Recerca i Estudis Avançats (Espanha) e da Aarhus University (Dinamarca) explicam que, para realizar o estudo, recorreram a uma amostra de 40 ratos fêmeas de 5 meses de idade. Os animais foram familiarizados com o trecho da música “Happy Birthday”, usando o timbre de um piano acústico. Após a familiarização, os animais foram submetidos a três diferentes sessões de teste com variação do tom (transposições com oitavas mais altas e mais baixas), tempo (dobro e metade da velocidade) e timbre (violino e flautim).

Os resultados indicaram que os ratos responderam de maneira diferente à versão familiar e nova da música quando tocada em novos instrumentos (alteração de timbre), mas não responderam de forma diferente à música original e às suas novas versões que incluíam transposições de oitava e mudanças no tempo. Os investigadores concluíram então que, tal como os humanos, os ratos conseguem reconhecer uma melodia, mesmo que ela seja apresentada em diferentes frequências e velocidades.

Já o facto de não reconhecerem o excerto musical quando tocado em violino ou flautim pode estar relacionado com o processamento de sinais de comunicação vocal intra-espécies, ou seja, ao contrário dos humanos, que prontamente processam informações linguísticas independentemente da identidade do falante, os ratos podem não possuir esse mecanismo de normalização, sendo por isso difícil reconhecerem uma melodia quando produzida por diferentes instrumentos.

“Uma questão-chave no nosso estudo é perceber por que é que os ratos consideraram as variações de tempo e tom menos distantes psicologicamente do que as mudanças no timbre”, refere Juan Toro, sublinhando no entanto que “os resultados obtidos indiciam que a capacidade dos humanos em reconhecer uma melodia independentemente das mudanças a nível de tom, tempo e timbre pode emergir parcialmente de sensibilidades pré-existentes para rastrear padrões harmónicos e temporais que já existem noutras espécies”.

Saiba mais sobre o projeto “Biological bases of music cognition” aqui.


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