Será que os movimentos fetais influenciam o nível de vínculo entre mãe e bebé?

Será que os movimentos fetais influenciam o nível de vínculo entre mãe e bebé?

Investigação registou os movimentos do feto em 51 grávidas e concluiu que frequências mais altas estavam fortemente ligadas a maior vínculo materno. A atenção consciente a estes sinais pode ser uma estratégia não invasiva e eficaz para fortalecer o vínculo pré-natal e promover cuidados mais atentos e sensíveis após o nascimento do bebé.

Uma das formas mais precoces e evidentes da interação do feto com o ambiente são os movimentos fetais, que transmitem à grávida uma sensação de segurança quanto à saúde e ao desenvolvimento do bebé. Ao mesmo tempo, estes movimentos do feto contribuem para o vínculo emocional que se cria durante a gravidez, denominado vínculo materno-fetal (VMF), e que ajuda a formar imagens mentais do bebé, preparando a parentalidade a um nível emocional.

Estudos anteriores revelaram que contar os movimentos fetais aumenta significativamente os níveis de VMF, e que mães que sentem mais movimentos do feto apresentam níveis mais elevados de VMF em comparação com aquelas que sentem menos. No entanto, não se sabe ao certo se esta associação resulta apenas da perceção subjetiva das grávidas, ou se existe, de facto, uma relação mensurável entre a atividade real do feto e o vínculo emocional que se estabelece durante a gravidez.

Para responder a essa questão, as investigadoras Kathy Ayala e Helena Rutherford lideraram um estudo, apoiado pela Fundação Bial, no qual foram registados os movimentos dos fetos de 51 grávidas no terceiro trimestre de gestação, através de um actocardiógrafo. O VMF foi avaliado com o questionário Prenatal Attachment Inventory-Revised.

O estudo foi apresentado no artigo Associations between fetal movement and maternal-fetal attachment in late pregnancy, publicado na revista científica Early Human Development, e que contou com a participação de investigadores da Yale University, Yale New Haven Hospital e Weill Cornell Medical College (EUA). Os resultados mostraram que quanto mais ativo é o feto, mais forte tende a ser o vínculo emocional da mãe com o bebé. Esta relação manteve-se mesmo quando se consideraram outros fatores que poderiam influenciar esse vínculo, como o estado emocional da grávida, o tempo de gestação, o número de gravidezes anteriores ou o facto de saber ou não o sexo do bebé.

Estes resultados reforçam a importância dos movimentos do bebé durante a gravidez, não apenas como sinais de saúde, mas também como uma forma de comunicação que ajuda a fortalecer o vínculo emocional entre mãe e filho. Mesmo quando não são conscientemente percecionados, os movimentos fetais parecem desempenhar um papel ativo na criação dessa ligação afetiva. Prestar atenção e interagir com os movimentos do bebé (por exemplo, através da observação ou da simples resposta emocional) pode ser uma forma simples, natural e não invasiva de promover um vínculo mais forte antes do nascimento. Este vínculo pode ter impacto positivo nos cuidados prestados após o parto, tornando-os mais atentos, sensíveis e emocionalmente sintonizados com o bebé.

“Embora os nossos resultados estejam alinhados com estudos anteriores, o trabalho que desenvolvemos vai mais longe ao usar medições objetivas dos movimentos fetais, em vez de depender apenas da perceção materna”, explica Helena Rutherford. “Ao recorrer a um actocardiógrafo fetal, conseguimos captar movimentos não percebidos pela mãe, o que permite uma análise mais rigorosa e imparcial da relação entre atividade fetal e vínculo pré-natal.”

“Considerando que o VMF está associado a interações mãe-bebé mais envolvidas e estimulantes no pós-parto, compreender estas associações pré-natais oferece pistas valiosas sobre como os processos psicológicos e relacionais precoces moldam o desenvolvimento ao longo do período perinatal”, reflete a investigadora.

Saiba mais sobre o projeto “111/16 - A psychophysiological perspective of the transformative experience of pregnancy” aqui.


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